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Dois mundos e uma verdade nua e crua

Outro dia recebi a última edição da Journal of the Masonic Society, que continha, dentre outras coisas interessantes, um artigo de Thomas Jackson. Para quem não sabe, Thomas Jackson é o que podemos chamar de uma lenda viva da Maçonaria no mundo, tendo estado por 16 anos à frente da Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares. Segue alguns trechos de seu artigo que considero importante compartilhar:

Não há um fator sobre o qual culpar o declínio contínuo do interesse pela Maçonaria na América do Norte, mas não há dúvida de que a falta de um compromisso educacional seja um fator importante. Como podemos esperar que exista um interesse em uma organização em que tão poucos membros sabem o que somos ou nosso propósito? (…)

Não consigo me convencer de que os maçons de hoje são menos capazes do que nossos irmãos do passado, mas somos definitivamente mais ignorantes; mais ignorantes do nosso passado, mais ignorantes do nosso presente e certamente mais ignorantes do nosso propósito. Se é verdade que nossos irmãos dos dias atuais são tão capazes quanto os irmãos do passado, a falta de educação maçônica deve ser a causa raiz de um interesse em declínio, e a responsabilidade por esse fracasso está nos pés das lideranças da Maçonaria Simbólica. (…)

Não podemos mais escolher por viver da glória do nosso passado. Não podemos mais ter nossa sobrevivência dependente das alegações de quão grandes éramos e apontarmos com orgulho a grandeza de nossos irmãos passados. Agora devemos decidir o que queremos ser. Se desejamos ser uma organização que será lembrada na história como uma que contribuiu para a grandeza da América, mas que desapareceu digna de poucas notas, basta continuarmos o caminho que estamos trilhando hoje. Se desejamos continuar a herança que nos foi concedida por nossos irmãos anteriores, devemos tomar a decisão de que nossos membros atuais merecem essa herança e desenvolver programas pelos quais os educamos. (…)

Atualmente, há jovens demonstrando interesse e buscando muito mais do que estamos oferecendo. Eles estão em busca de algo que a sociedade não está fornecendo-lhes. Eles estão procurando por uma organização de qualidade muito acima da mediocridade da sociedade atual. Eles estão procurando conhecimento e um sistema que os forneça isso. Eles sabem mais sobre a Maçonaria antes de solicitarem ingresso em uma Loja do que qualquer um de seus antecessores. O que sabem, no entanto, é o que eles aprenderam sobre a Maçonaria do passado. Agora cabe a nós fornecer a eles aquilo que eles procuram. Cada um deles e cada um de nós deseja ser afiliado a uma organização de qualidade e é isso que a Maçonaria deve ser. (…)

Provavelmente, expressei muito claramente minha opinião sobre o tema da educação maçônica. Este mundo realmente precisa de uma organização alicerçada sobre uma base dos propósitos filosóficos da Maçonaria. Se somos merecedores de nossa herança, devemos empreender um programa de educação de nós mesmos e de nossos membros. O legado de nossos irmãos passados ​​merece esse respeito, e o respeito dado à Maçonaria será proporcional às exigências educacionais da Maçonaria (JACKSON, Thomas. Masonic Education: Looking to the Future. The Journal of The Masonic Society, Issue 40, Spring 2020).

Agora, se trocarmos América do Norte por Brasil nessas palavras, você estranharia? Quão distante esse cenário está de nossa realidade? Nossos irmãos não sabem o que realmente é a Maçonaria e qual o seu propósito? Vivemos da glória do passado? Nossas reuniões estão rasas e frustrantes demais para a nova geração?

O que o feeling de Thomas Jackson diagnosticou nos Estados Unidos é o mesmo que a pesquisa feita a pedido da CMI, em 2018, diagnosticou no Brasil: Há uma deficiência na educação maçônica brasileira, que tem gerado uma série de problemas para nossas organizações maçônicas e, se não bastasse, também tem gerado a significante evasão maçônica entre os mais jovens, cujo nível de exigência e expectativas por conhecimento não tem sido alcançado. E, sem os jovens, o futuro de nossa Maçonaria estará comprometido.

Como muito bem observado no artigo citado, somente por meio do desenvolvimento de programas sólidos de Educação Maçônica em larga escala poderemos solucionar esses problemas. E os pilares da Educação são: Pesquisa, Ensino e Extensão. Ou seja, precisamos pesquisar mais, produzir mais conteúdo (primário e secundário), ensinar mais, e criar ferramentas de aplicação desses ensinamentos.

Algumas iniciativas vêm surgindo nos últimos anos no Brasil, como Ciência & Maçonaria, Escola No Esquadro, UniAcácia, Biblioteca Digital da CMSB e a UniCMSB; e têm dado suas contribuições em prol da Educação Maçônica no Brasil, graças a irmãos cientes de tal responsabilidade e que estão fazendo sua parte. E você, está fazendo a sua?

3 comentários sobre “Dois mundos e uma verdade nua e crua

  1. Caro Ir Kennyo bom dia. Sou obreiro do Gosp e gostaria de saber se é possível ter acesso aos dados da pesquisa relatada no texto. Obrigado

    Kennyo Ismail – Você encontra aqui mesmo no blog: https://www.noesquadro.com.br/wp-content/uploads/2018/04/RELAT%C3%93RIO-CMI.pdf

  2. A muito, estamos dizendo o quanto a Maçonaria está envelhecida.
    Os dados da última pesquisa da CMSB demonstra claramente esse cenário.
    É certo que os maçons estão vivendo intensamente esse presente dentro de um condicionamento adquirido que contamina e compromete o futuro da Ordem. O hoje tem que ser vivido dentro dos princípios de que o amanhã se tornará hoje, mas as lacunas não estão sendo preenchidas como deveria, ou seja para muitos sem conhecer de fato a instituição; uns mais conservadores abominam inclusive iniciação de jovens, como se esses fossem tomar seu espaço, o que de fato vai ocorrer. A evasão maçônica é Iminente.
    A preocupação é pertinente.
    As ações implementadas foram e são necessárias, estão surtindo o efeito, mas ainda não o esperado. A trilha está aberta para que essa metodologia possa chegar com abrangência a uma renovação de pensamentos.

  3. Estamos tendo a oportunidade de iniciar irmãos mais jovens em nossa Obediência, dentro de uma estratégia de governo apoiada pelas Lojas jurisdicionadas. Os resultados têm sido fantásticos, os jovens (muitos deles Sênior De Molays) vêm com uma sede e um entusiasmo contagiante, em pouco tempo, literalmente, “passam por cima”, mesmo. Até os Mestres mais supostamente preparados, sentimos notória dificuldade, pois a dinâmica de assimilação dos principais conceitos se dá de uma maneira impressionante. Baseado nessa necessidade, nossa Loja dispõe, desde 2018, de um ambiente virtual de ensino e aprendizagem (EaD), através do qual conseguimos estabelecer Câmaras de Estudos, as quais têm colhido um nível, impensável há poucos anos atrás, de dinâmicas e reflexões de deixar qualquer Mestre experimentado de “queixo no chão”.
    Dito isso, sou otimista com relação a um futuro profícuo para a Maçonaria, desde que, nós atuais Mestres, tenhamos a humildade de chamar os novos AApr. e CComp. para a “discussão” e não chamarmos para “instrução”, isso muda tudo, pois conforme o Irm. Kennyo cita no texto acima, “eles sabem mais sobre a Maçonaria antes de solicitarem ingresso em uma Loja do que qualquer um de seus antecessores” e ouso acrescentar, em pouco tempo de Ordem, saberão mais que muitos de nós que ostentamos um Avental colorido!
    Sempre repito pra mim mesmo: Temos de lutar para formar Mestres melhores do que nós, senão teremos falhado com a missão da Mestria maçônica e, por consequência, estaremos competindo para falhar na semeadura do futuro da própria maçonaria!
    T.F.A.

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