Tenho recebido alguns questionamentos sobre minhas críticas acerca do conteúdo de boa parte da literatura maçônica brasileira, o que me leva a justificá-las de uma forma geral:
Ocorre que o grosso da Maçonaria brasileira foi construído aos moldes da Maçonaria francesa, que, além dos ritos, cedeu-nos sua literatura maçônica, principal fonte para a grande maioria dos autores brasileiros. Isso pode ser muito bem observado nos livros de Castellani, em que mais de ¾ da bibliografia é francesa.
No século XVIII e XIX, a França foi o palco principal do esoterismo no mundo. Ordens rosa-cruzes, templárias, herméticas e cabalísticas brotavam aos montes, e junto delas uma inundação de suas literaturas tomava a sociedade. E é claro que isso impactou diretamente e influenciou profundamente a Maçonaria Francesa. Além disso, o histórico desprezo velado entre franceses e ingleses, agravado pelo rompimento entre a Grande Loja Unida da Inglaterra e o Grande Oriente da França, fez com que a Maçonaria francesa, rejeitando a literatura maçônica histórica da época (de predominância anglo-saxã), começasse a criar sua própria literatura. O conteúdo literário de seitas, escolas e outras ordens, além de autores como Eliphas Levi, Agrippa, Stanislas de Guaita, Péladan e outros, que pouco ou nada tem com a Maçonaria, começaram a servir de base para literatura maçônica francesa, que não parava de crescer. O resultado dessa mistura foi a criação de infinitos mitos, os quais se propagaram no solo fértil e carente da Maçonaria brasileira.
E se isso não for o bastante para criticar a literatura maçônica francesa como fonte, vejamos a opinião de um autor… francês! O respeitável irmão Marius Lepage, em sua obra “A Ordem e as Obediências – História e Doutrina da Franco-Maçonaria”, registrou:
“Os franceses, e com eles os maçons, têm, em geral, bem poucas possibilidades de tomar conhecimento exato, mesmo superficial, da Maçonaria. (…) Na França, existem bem poucos livros sobre a história da Maçonaria aos quais se pode fazer referência sem grandes reservas. Na verdade, embora os tenhamos em grande número, não encontramos nem mesmo dez suscetíveis de nos interessar, e, nessa dezena, dois ou três apenas merecem ser estudados a fundo. (…) Os livros sobre a história da Maçonaria são abundantes, tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos. O fato é que o Reino Unido não sofreu invasão estrangeira e suas bibliotecas não foram pilhadas por um governo violentamente antimaçônico. Além disso, várias Lojas ou Associações, inteiramente consagradas a pesquisar a história da Ordem, publicam resumos extremamente interessantes de seus trabalhos.”
Marius focou no aspecto histórico pois essa é a abordagem de sua obra. Porém, essa baixa credibilidade da literatura maçônica francesa abrange todos os aspectos maçônicos, desde históricos até simbólicos, litúrgicos, filosóficos. Como o autor mesmo diz, apesar do grande número, são poucos os títulos maçônicos franceses que merecem ser estudados, enquanto que a literatura maçônica inglesa e norte-americana, ainda pouco explorada no Brasil, é bem mais confiável.
Muitas mentiras repetidas por tantas vezes em tantas obras durante tantos anos, sendo pulverizadas em cada Loja por um número interminável de trabalhos apresentados, acabaram se tornando verdades absolutas na Maçonaria brasileira. É impossível derrubar um desses mitos da noite para o dia, ou até mesmo todos eles em cem anos, mas talvez consigamos derrubar alguns deles ao longo dos anos, construindo assim uma Maçonaria mais pura, universal, verdadeira.
Caro Ir,
Por favor, me indique alguns livros que foram publicados aqui, traduzidos, com fonte na literatura maçonica americana ou inglesa.
Preciso estudar maçonaria e na minha loja deve haver uns trinta ou quarenta livros bem antigos e empoeirados, quase todos de Castellani…
TFA
João Cunha
Meu Irmão João Cunha,
Estou enviando uma lista para seu e-mail.
TFA,
Kennyo Ismail
Obrigado, irmão.
Um grande abraço com as multiplicações de praxe.
João Cunha
Olá Ir.:
Se fosse possível, gostaria desta lista também.
TFA
Meus Irmãos, infelizmente, não há muitos títulos traduzidos para o o português. Quando o Irmão João Cunha pediu a indicação, não me atentei para o fato de que se referia a títulos traduzidos e publicados aqui no Brasil. Temos apenas uma dúzia assim em português. De qualquer forma, os irmãos interessados numa indicação de bibliografia básica em inglês, mandem-me e-mail em pvt que terei prazer em fornecer.
TFA,
Kennyo Ismail
Boa tarde.
Gostaria de solicitar também a lista de livros, mesmo os originais em Inglês.
TFA
Kennyo Ismail – Wilson, há um link no menu do blog com um resumo de literatura sugerida: http://www.www.noesquadro.com.br/literatura-sugerida
tem titulos em ebooks na rede …
basta traduzir …
Sir KT Kennyo parabens por mais esse post…
Concordo com vc…
Se pegarmos muitos livros que Castellani publicou no Brasil, vemos que é praticamente copia dos franceses existentes…
Caro Ir.: Kennyo Ismail.
Formando fila nas solicitações já feitas, lhe peço se possível me indique lista de literatura maçônica, nacional ou estrangeira traduzida. Estou apenas no início da longa caminhada, e tenho dificuldades em identificar quais literaturas disponíves, são de fato de qualidade, e, portanto, mereçem estudo.
A Loja a que pertenço trabalha no REAA.
A.: R.: L.: S.: Acácia Itajaiense n. 1.
GLSC
Parabéns pelo brilhante e esclarecedor trabalho que desenvolve.
Meu e-mail
wppereira06@gmail.com
Kennyo, parabéns. Eu já tinha observado a mesma coisa. Pode me passar a lista por email? TFA e saudações em DM
Primeiramente gostaria de agradecer pelo conteúdo de altíssima qualidade disponível no site. Faz parte da minha leitura quase que diariamente. Se possível gostaria desta lista também ( du_valle@hotmail.com ) . Obrigado
Rafael Quintanilha.
Olá Ir.·.
Parabéns pelo artigo.
Se for possível poderia enviar a lista por e-mail.
Desde já grato.
T.F.A.
Uma das coisas mais preocupantes no cenário maçônico brasileiro, a meu sentir, é o mito repetidamente contado como fato (e ainda temos a desfaçatez de dizer que buscamos a verdade) e o excesso de esoterismo ou pseudo-esoterismo nas instruções dadas aos aprendizes.
Há algum tempo tenho procurado irmãos “adormecidos”, e não me surpreende que muitos deles digam ter se afastado da Ordem porque viam muita “firula” ou porque viam incompatibilidade com suas crenças religiosas.
De fato, a problemática de sermos uma maçonaria que descende quase que diretamente da francesa, na qual houve, por razões históricas, um entrelaçamento de conteúdo maçônico e rosicruciano e de outras Ordens místicas, é que a gigantesca maioria dos maçons brasileiros não instrui seus aprendizes e companheiros sobre maçonaria: instrui sobre esoterismo (ou pseudo-esoterismo).
Nas entrevistas preliminares do processo de admissão de novos membros, costumamos dizer que a maçonaria não é religião, que aceitamos membros de todos os credos e que, em Loja, não se discutem assuntos religiosos.
Depois de iniciados, logo se deparam com um festival de “cabala” e “chakras” (como se pedreiros semianalfabetos da Europa medieval tivessem algum conhecimento disso) e “numerologia” e a sensação do aprendiz que não acredita em nada disso é que está no lugar errado.
Na verdade, o que está no lugar errado é esse conteúdo!
O conteúdo realmente maçônico é, sim, universal. E por conteúdo maçônico, entenda-se tudo aquilo que se encaixa – e não ultrapassa – a definição clássica de Maçonaria: “um sistema peculiar de moralidade, ilustrado em alegorias e velado por símbolos”.
Recentemente, em uma Loja que visitei, vi o V. M. dar uma “explicação” aos aprendizes sobre as energias que os espíritos trazem etc… um dos aprendizes visitantes, que eu sabia ser evangélico, estava visivelmente contrariado. Esse V.M. deveria ter deixado as crenças religiosas dele em casa.
Noutra, um Mestre Instalado falando sobre os chakras no ritual de aprendiz, e vi se repetir a cena.
Enquanto isso, fazendo companhia a um M.I. de QUARENTA anos de Ordem, que dava instruções a um aprendiz, quando comentei sobre o Livro de Rute, este demonstrou nem saber do que se tratava. Durante 40 anos deu instruções sobre esoterismo ou pseudo-esoterismo sem saber O BÁSICO do grau.
E é por isso, e somente por isso, que a quase totalidade da literatura maçônica que se encontra no Brasil não tem quase nada de maçônico.
Excelente observação meu irmão Naruê, a maioria dos maçons não sabem o que é maçonaria.
Parabens ir kennyo ,por sua abordagem fundamentada e acima de tudo original,façol parte da ordem rosa cruz
E identifico muitas diferenças em informaçoes que nos chegam ,com alguns fundamentos historicos que vez por outra parecem surgir do nada,a sua apreciação é oportuna e cria um janela de estudo bastante interessante.pode me incluir na lista dos interressados ,que são muito em nossa loja,em trabalhos e livros em llingua inglesa ,espanhol ou traduzids para o portugues
Tfa
Walteilton diniz
Fav 187
O artigo comete -inconscientemente- um deslize ideológico: ao apontar os diferentes contextos das duas vertentes da Maçonaria, o inglês e o francês, o que está absolutamente correto, expressa sua preferência pela vertente inglesa, confundindo esta com "a" verdadeira Maçonaria. Na verdade, historicamente, temos as duas vertentes, sim, mas é apenas preferência pessoal a decisão por uma delas, sem que isso apóie qualquer verdade. A GLUI sempre se disse a primeira fonte da Maçonaria, o que é posto em dúvida, documentalmente, por vários autores sérios. Além disso, nem mesmo na Inglaterra essa união deixou de ser quebrada, desde o início e atualmente. O desenvolvimento de uma Maçonaria mais espiritualizada entre nós decorre de nossa cultura própria, religiosa, não a qualquer desvio de uma "regularidade" que é mais política do que maçônica.
Kennyo Ismail – Prezado Francisco, permita-me discordar. Quando se trata de ideologia, não há deslize. Há opinião. Essa é a minha opinião, compartilhada até mesmo pelos melhores autores franceses de Maçonaria. E essa minha opinião é baseada nos fatos expostos no texto, perante os quais creio ser difícil apontar fortes argumentos. A influência de outras Ordens e seitas é nítida e registrada. Quando falo de literatura inglesa, não me refiro a GLUI, que é algo mais recente, do século XIX. Talvez eu devesse usar o termo “anglo-saxônica” como uso em vários outros textos, pois refiro-me aos registros maçônicos de uma forma geral, oriundos também da Grande Loja de York, da Grande Loja dos Antigos, da Grande Loja de Preston, da Grande Loja dos Modernos, dos escoceses e irlandeses também. Essas são, sem dúvida, as primeiras fontes maçônicas. Não a GLUI. Nunca. Não tratei nesse texto de regularidade, em ponto algum. Fato é que muitos ritos latinos estão tão distantes da maçonaria operativa que, se não fosse pelo esquadro e o compasso, nem poderíamos chamá-los de maçonaria. Já os ritos e rituais anglo-saxônicos estão mais próximos simbolicamente das práticas operativas, e é isso que me leva a falar em Maçonaria “mais pura”. Obrigado pela colaboração ao tema.
Ir Kennyo,
Mas não seria correto dizer que assim com a sociedade francesa era influenciada por isso ou aquilo, o mesmo processo ocorria com a sociedade inglesa. Em certo aspecto quase todas as sociedades são assim. Concordo com a tese de que temos varias correntes na maçonaria e assim ela vem se consolidando, visto que não conseguimos nem mesmo a normalização dos Ritos….Agora, achar que o “pedreiro” da Idade média ou de qualquer tempo antigo era semi-analfabeto é ignorar a história, onde sabemos que os construtores e artífices em geral, inclusive, pertenciam a um determindado grupo social com direitos diferenciados pois não tinham nada de ignorantes….como um semi-analfabeto poderia fazer as obras que foram feitas???? Sei que o comentário não é seu….mas não consegui deixar passar. Por fvor me envie a lista sugerida.
TFA
Irmão Kennyo, excelente artigo. Gostaria dessa lista de indicações de literatura se possível. Sou leitor assíduo do conteúdo do blog e de seus livros, materiais que valem a pena.
Grato