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MORAL MAÇÔNICA: TEORIA x PRÁTICA

Outro dia estava palestrando em uma loja e, como de costume, o assunto “evasão maçônica” veio à tona. E, também como de costume, alguns irmãos demonstraram apego à cultura maçônica brasileira de que “a Maçonaria é perfeita” e “quem saiu nem deveria ter entrado”, o que costumo chamar de arrogância institucional: enquanto uma potência não tiver a humildade de querer entender como ela pode melhorar para reduzir a insatisfação dos maçons, por maior que ela seja, ela não será “grande”, no melhor sentido da palavra.


Contudo, um dos irmãos presentes quis saber na prática, com exemplos, mesmo que fictícios, porque um irmão ficaria insatisfeito com a Maçonaria. Eis aqui um raciocínio hipotético, que não atinge apenas a satisfação de maçons, mas a Maçonaria perante a sociedade:


Se um líder da Maçonaria compra, com o dinheiro da potência, um carro importado de 250 mil reais para busca-lo e leva-lo em casa, a uma distância que daria para ele ir a pé; e outro gasta 15 mil em um único jantar de uma viagem; e, em ambos os casos, ninguém faz nada… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da má aplicação do dinheiro público?


Se uma liderança maçônica não consegue ir em um evento maçônico familiar sem ficar bêbado e inconveniente, e ninguém reclama… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da postura de qualquer político, ou até mesmo de seus próprios membros?


Se um dirigente na Maçonaria difama e boicota um palestrante junto às lojas de sua jurisdição, simplesmente porque não gosta do que ele fala… qual a moral que a Maçonaria tem para defender a liberdade de expressão e de imprensa?


Se um poderoso maçom pede para outro ameaçar e silenciar um escritor maçônico que escreveu algo que ele não concorda… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar de abuso de poder por parte de qualquer autoridade do judiciário, do executivo ou do legislativo?
Se um grupo de situação consegue fazer um malabarismo técnico para impugnar uma candidatura de oposição, e ninguém toma qualquer providência… que moral qualquer irmão têm para, se de direita, reclamar que o Bolsonaro está inelegível ou, se de esquerda, reclamar que o Lula foi preso às vésperas de uma eleição?


A Maçonaria é um “sistema de moralidade”. Como todo sistema aberto e instalado em um ambiente externo, seu objetivo é que o “profano” entre no sistema, o qual, funcionando, o transforma em um “maçom”, ou seja, um ser moral, para que este transforme o ambiente externo, de modo a colaborar com o bem-estar e a felicidade da sociedade. Mas se esse sistema educacional de moralidade não estiver funcionando corretamente, a ignorância, a intolerância, o fanatismo, a tirania e os vícios, aprendidos anteriormente no ambiente externo, terão mais força dentro do sistema do que suas próprias engrenagens.


Por sorte, essas são apenas hipóteses para fins de racionalidade, que não ocorrem nas instituições maçônicas brasileiras! Mas todas são possíveis, se não investirmos em educação maçônica, se não escolhermos os dirigentes corretos e, principalmente, se formos omissos aos seus erros. A relativização do errado em um sistema de moralidade é apenas a consequência, tendo como causa o abandono de suas engrenagens educativas.


A relativização dos erros de lideranças e a normalização de abusos e absurdos pelo povo maçônico afetaria sua moral para se manifestar no mundo “profano”. Seria, no mínimo, incoerência. Entretanto, talvez o maior impacto desse comportamento coletivo hipotético seria a saída de novos entrantes, que ainda não estariam anestesiados a tais erros e sairiam por concluírem que o que a Maçonaria ensina é distinto do que os maçons estão praticando.

7 comentários sobre “MORAL MAÇÔNICA: TEORIA x PRÁTICA

  1. Mas o que importa é que a egrégora não foi abalada 🙂

  2. Os Aprendizes são os grandes guardiões da Maçonaria, no entanto, quando se dão conta do comportamento dos velhos aprendizes, hoje Mestres Maçons e no que se transformaram graças a submissão à arrogância vaidosa.

  3. Hoje não podemos ter uma opinião , pois se houver uma divergência seremos presos . A constituição brasileira foi e continua sendo aviltada. A maçonaria é contexto dessa sociedade. Criminalidade , judicialização sócio política. Universidades pagas pelos contribuintes com comportamentos ideológicos deturpados …. Enfim não há milagre maçônico para isso . Lembrando também as moças judias que ficaram encarceradas em locais administrados pela própria ONU. Não damos conta de tanta barbárie…

    Kennyo Ismail – Querido Irmão Vicente, ouso discordar em partes. Você diz que não se pode ter opinião, pois se houver divergência seria preso… mas te sigo no Facebook e você publica sua opinião discordante várias vezes por dia e, graças a Deus, nunca tive notícia de você sendo preso! E digo o mesmo de vários irmãos que tenho visto repetirem esse discurso de que hoje vivemos uma ditadura onde há crime de opinião, enquanto sentam o dedo no WhatsApp, Instagram, Facebook, até mesmo divulgando fake-news em alguns casos, e nada acontece. Então, creio que tem certo exagero nessa narrativa… Sobre universidades públicas, estudei em uma, participo de uma, tenho grandes amigos em várias do país, já conversamos muitas vezes sobre isso, pois sempre escutamos essa estória, mas não conseguimos ver desse modo como é narrado. Professor de universidade pública é concursado, então não tem barreira, havendo gente de diferentes ideologias (a não ser que você acredite que um lado é mais inteligente e capaz de passar em concurso do que o outro). Aluno de universidade pública, idem: é por vestibular. E as reitorias são eleitas. Então, não vejo como haver a institucionalização de uma ideologia. Apenas há cursos com mais gente de direita, outros de esquerda, o que é natural. TFA.

    1. Certeira resposta, ir.’. Ismael. O ir.’. Vicente está equivocado em sua percepção da realidade brasileira. Vivemos em uma democracia.
      Parabéns pelo conteúdo do Blog. Muito bom!

    2. Instituições públicas, mormente as universidades, são ideológicas, 90% delas à esquerda, é fato, basta entrar numa delas e ver com próprios olhos

      Kennyo Ismail – Marcelo, discordo. Como se entra para uma universidade pública? Como professor, por meio de concurso. Como aluno, por meio de processo seletivo (vestibular, ENEM…). Assim sendo, a sua hipótese somente seria verdadeira se você acreditar que as pessoas de esquerda são em geral mais inteligentes e capacitadas do que as pessoas de direita. É isso que quer dizer? Creio que não. São muitos os cursos em que você encontrará mais pessoas de direita do que de esquerda, pelo próprio perfil do curso, e vice-versa.

  4. Perfeitas colocações.

    O Maçom deve ensinar e liderar pelo exemplo…. Logo… devemos ter boas atitudes para servir de exemplo a quem nós queremos educar (filhos, sociedade, e pessoas próximas).

    Se agirmos de acordo com o “mundo externo”significa que nosso “mundo interno” não tem nada a ensinar.

    Assim como conhecemos excelentes cidadãos que ainda nao foram iniciados, mas tem uma conduta ilibada, sim… aqueles que nós chamamos de “Maçom nato nao iniciado” ou Maçom sem avental…… Infellizmente também temos o inverso… os PROFANOS DE AVENTAL os quais nunca deixaram a maçonaria entrar em seus corações, ou nunca seguiram seus preceitos.

    Maçons devem ser recohecidos por suas atitutes fora de loja…. Seria muito bonito ver… a pergunta
    Sois Maçom ?? ser respondida diferentemente….
    Bonito seria ouvir… M.’.A.’.F.’.C.’.T.’.M.’.R.’. (MEUS AMIGOS E FAMILIA como tal me reconhecem)
    Ma
    com deve ser maçom fora de loja. POis dentro… é muito facil…

  5. Lúcida e necessária reflexão.

    Como diria Joelmir Beting, famoso jornalista brasileiro, “na prática, a teoria é outra”.

    Quem não conhece sua historia tende a repeti-la. Se aplicássemos o mínimo do que aprendemos (ou deveríamos) em loja, teríamos uma realidade mais alinhada com os propósitos maçônicos.

    Queremos mudar o país, o mundo, mas se quer acompanhamos o tesoureiro de nossa loja nas escriturações e balanços, ou participamos das comissões, por exemplo.

    Se o “imperativo categórico de Kant” – ou a “sã moral” – fosse plenamente conhecido (passando pela “crítica da razão pura” e da “razão prática), tais reflexões seriam desnecessárias. Como quase não há “tempos de estudos” em “ordens do dia” vazias, que se conheça então, pelo menos, a “regra de ouro” da fé que se professa.

    Entre o brilho de paramentos cada vez mais sofisticados e a luta pelo poder por cargos, as glórias do passado ficam cada vez mais distantes.

    Se quer conseguimos, ainda, a emancipação pela razão. Adotamos narrativas sem profundidade, na era da “lacração”. Imagine a dificuldade, nos dias atuais de definir “bons costumes”?

    De fato, se na Inglaterra e na França o Iluminismo, embora distintos, impactaram a nossa Ordem e por consequência a sociedade, por aqui, em terras tupiniquins, padecemos em pernicioso obscurantismo maçônico cultural.

    Ir∴ Kennyo, à você minha admiração e respeito, por sair da caverna e tentar resgatar nós outros, sob o risco de morrer tentando, com suas obras.

    T∴F∴A∴

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