A Maçonaria Brasileira proporciona aos seus membros um cenário peculiar de conteúdo maçônico por conta de sua variedade de ritos. Os maçons no Brasil têm a possibilidade de acesso a ritos e rituais de origem francesa, inglesa, norte-americana, alemã, etc.
Cada rito traz consigo uma gama de características próprias, tanto no que tange a ritualística e liturgia, quanto a simbologia e ensinamentos morais. Entretanto, é importante observar que os ritos são praticados por indivíduos, que são os maçons, e que se reúnem em organizações, que são as Lojas e Obediências. Essas, por sua vez, estão inseridas em um macroambiente complexo, que é a sociedade. Com isso, as Lojas e Obediências sofrem influências internas e externas, ou seja, das particularidades de seus integrantes e da cultura e costumes da sociedade em que está inserida. O resultado disso são os valores, crenças, tendências regras e clima organizacional que forma a identidade própria dessas organizações. Em outras palavras: cultura organizacional.
Assim sendo, tem-se de um lado o Rito Schroeder e de outro a cultura organizacional da Maçonaria Alemã; há o Rito de York e há a cultura organizacional da Maçonaria Norte-americana; existe o Ritual de Emulação e existe a cultura organizacional da Maçonaria Inglesa; e assim por diante. Enfim, rito e cultura organizacional são coisas distintas, assim como as características de cada um.
Porém, não é difícil presenciar maçons, autoridades maçônicas e ritualistas de plantão confundindo tais conceitos, creditando características de cultura organizacional da Maçonaria de determinado país ao Rito nele originado. E qual é o impacto disso na Maçonaria? Ora, rito é universal, fixo, imutável, enquanto que cultura é regional, variável, em constante mutação. Ao considerar uma característica cultural como característica do rito, você está impondo-a e tornando-a indiscutível, um tabu.
Essas confusões alcançam diferentes fatores maçônicos. Segue dois exemplos claros dessa confusão:
“O Rito Tal adota gravata de tal cor”… “o Ritual tal utiliza calças diferentes…”. Os ritos tratam de acessórios ritualísticos, como cobertura (chapéu, cartola, fez, capuz, véu), aventais, faixas, luvas, colares. Mas regras de vestimenta, como o uso ou não de terno, cor e tipo de gravata, o uso ou não de balandrau, não têm origem nos ritos e sim nas organizações.
“No Rito X, a quantidade de votos contrários para a reprovação no escrutínio é diferente do Rito Y” … “No Rito 123 existe linha sucessória…”. Regras de seleção de candidatos e de processo eleitoral não são dos ritos, mas sim das organizações.
Não se está aqui insinuando de alguma forma que adotar características próprias da cultura organizacional das Obediências de origem dos ritos seja algo indevido. Muito pelo contrário, muitas vezes é uma questão de identidade cultural, cuja exploração pode colaborar para a consolidação do rito em solo brasileiro. Mas que fique claro que se trata de convenções organizacionais, e não obrigações que o rito nos impõe. Afinal de contas, creditar a um rito conteúdo e características que não são próprias do mesmo não deixa de ser uma forma de adulterá-lo.
Caro Ir.’. Kennyo.
Muito esclarecedor vosso texto.
Até então, acreditava que a vestimenta fazia parte de determinado rito, principalmente no que se refere a gravata, apesar de conhecer diferentes vestimentas do mesmo rito, mas em potências diferentes.
T.’.F.’.A.’.
SFU
Bem, vou tentar tirar uma dúvida.
No meu RITUAL de Ap.’. nas primeiras páginas, me diz como devo me vestir, incluindo determinações de uso do balandrau.(GLEG)
Pelo que entendi, tais determinações não deveria estar contidas ali? É isto mesmo? TFA
Márcio.’.
Kennyo Ismail – Meu Ir.´. Márcio, como as Obediências têm o costume de providenciar a impressão de seus rituais, muitas vezes aproveitam para acrescentar normas e procedimentos que não são do Rito, mas da Obediência, e devem ser observadas pela Loja: de Palavra Semestral, da Maçonaria e seus Princípios e Fundamentos, até mesmo a cor da meia que o maçom deve utilizar em Loja. Isso é natural e esperado. Não digo que essas informações não deveriam estar no Ritual, mas que é importante que o maçom saiba que não são oriundas do Rito e sim da Obediência.
SFU
Obrigado pelo pronto atendimento Ir.’. Kennyo.
Mas ainda não sei diferenciar quando são normas e procedimentos da obediência e não do RITO.
Qual documento me mostra estas distinções?
Como vou saber o que é oriundo do Rito e não da Obediência?
TFA
Márcio Martins.’.
Kennyo Ismail – Meu Ir.´. Márcio, infelizmente nossa Maçonaria no passado não era tão organizada como gostaríamos. Basta lembrarmos dos documentos históricos que já foram parar em sacos de lixo no Palácio do Lavradio. No entanto, há algo que pode nos ajudar. Veja, por exemplo, o Ritual de Aprendiz do REAA de 1804, traduzido pela Oficina de Restauração do REAA. Nele você tem os títulos: “Insígnia dos Oficiais”; “Entrada no Templo”; “Decoração e Utensílios da Loja”; e “Utensílios para a Iniciação”. Em seguida é a ritualística de Abertura, Iniciação, Instruções e Encerramento. Outros rituais antigos são ainda mais concisos em seus preâmbulos. Tudo o que difere disso provavelmente foi acrescentado pela Obediência. TFA, Kennyo.